quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

António Silva



”O português que se desenrasca, meio aldrabão, cheio de bazófias”, assim se refere Vítor Pavão dos Santos ao grande António Silva.
Nunca vi descrição tão correcta.
As personagens pitorescas que magistralmente interpretou, e que perduram na nossa memória colectiva, caracterizavam-se por essa tão portuguesa tendência para o facilitismo exagerado, o “deixa andar”, o “tudo se resolverá”.
É claro que com um talento enorme, que assumia o expoente mais elevado na maneira como gesticulava as mãos, absolutamente ímpar no nosso cinema.
António Silva veio do nada, na adolescência foi marçano, empregado de uma retrosaria, caixeiro de uma drogaria, bombeiro. Trabalhava e estudava, tirando o Curso Comercial que para nada lhe serviu, já que o Espectáculo era a sua paixão.
A primeira ligação ao cinema surge quando integra o grupo “Fitas Faladas”, que dobrava filmes mudos no Salão Ideal, na rua do Loreto, bem perto do Largo de Camões.
Aparece pela primeira vez no teatro em 1910, na Companhia dirigida por Alves da Costa, no Teatro da Rua dos Condes, com a peça “O Novo Cristo” de Tolstoi, e a partir daí, não mais parou, até se reformar já nos anos 60.
Ninguém esquecerá o alfaiate “Caetano” da “Canção de Lisboa”, o “Evaristo” do “Pátio das Cantigas”, o “Simplício” do “Costa do Castelo”, e muitos outros que uma série de gerações aclama, décadas passadas, como se os filmes tivessem acabado de se estrear.
É a primeira figura do cinema português que aqui coloco.
E não podia ser outra.

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